O por que da escolha pela Psicologia?

Uma pergunta que muitas pessoas me fizeram e ainda me fazem.

Na primeira semana da graduação escutei de uma Profª Doutora em Psicologia o seguinte:
"Não somos nós que escolhemos a psicologia, ela que nos escolhe!"

Essa frase me fez pensar e tinha todo um sentido, mas somente depois de alguns anos de análise pessoal e quase concluindo a graduação que a mesma ganhou todo um significado para mim.

Optei por essa profissão quando eu tinha 16 anos, logo depois de ter uma aula de psicologia no ensino médio. A professora que era psicóloga me encantou com sua aula e pude perceber um desagrado na maioria da turma em ter aquela aula em plena sexta-feira e sendo dobradinha entre o intervalo. Mas, fiquei tão encantada que usava o intervalo inteiro naquela primeira aula e em outras conversando e tirando dúvidas com a professora. É claro que as aulas que tive naquele ano eram superficiais, senso comum, muito distante da tamanha complexidade que é a psicologia.

Senti naquele tempo que era essa a profissão que eu deveria seguir, pois tinha a idéia de que ser psicóloga, era entender a alma do ser humano, aconselhar, orientar, ajudar as pessoas a viverem melhor. (Tamanha foi a minha frustração já na faculdade que psicólogo não aconselha e nem muda ninguém, psicólogo dá a direção, trabalha a percepção e o indivíduo só muda se permitir mudar, nós não mudamos ninguém, ainda bem, hoje percebo o quão é bom não termos o poder de mudar as pessoas!).

Desde muito nova, adorava ouvir, aconselhar, ajudar e tinha muita curiosidade em fazer psicoterapia, entender como era o processo psicoterápico, imaginava que seria uma experiência única! (E embora eu seja suspeita em dizer, é! Algo espetacular quando nos permitimos!).

Quando comentei com algumas amigas que tinha optado por psicologia, elas vibraram, falaram que eu não poderia ter escolhido profissão que tivesse mais a ver comigo. Por outro lado, teve o preconceito por parte de outras pessoas que diziam: "Quem faz psicologia fica louco!"; "Você vai estudar para lidar com loucos?" Eu tentava explicar o que eu mesma desconhecia e desde aquela época já acreditava que loucura mesmo era não entrar em contato consigo mesma. Claro que hoje há mais esclarecimento, no entanto, ainda tem muito preconceito e desinformação quanto ao trabalho que a psicologia realiza, portanto, não é incomum ainda ouvirmos frases como essas, de que psicólogo trata loucos. (Sugiro ler o post: O que é psicoterapia?)


No entanto, ao término do ensino médio fui estudar outro curso por N razões, mas sabia que na sequência do mesmo era psicologia que eu faria e na psicologia clínica que eu iria me identificar, me especializar, fazer carreira e ser feliz profissionalmente!

Muitos acontecimentos e obstáculos foram colocados diante de mim tentando me impedir de dar início na faculdade de psicologia, mas nada era capaz de me convencer do contrário, nem mesmo as opiniões pessimistas de alguns alegando que o curso era muito difícil e que o retorno financeiro seria insatisfatório, nada me desanimava.

Vivi os cinco anos da graduação encantadores e inesquecíveis, muitas leituras, livros, apostilas, testes psicológicos, relatórios, trabalhos, mas, a cada semestre, a cada estágio obrigatório não-remunerado, a cada aprendizado eu me tornava mais convicta de que estava percorrendo o caminho correto!

Me deparei com muitos desafios, mas enfrentei todos eles com um único propósito, vencer e realizar o meu sonho: Me formar Psicóloga. Mas, sempre estudei e continuo estudando porque não quero ser apenas mais uma profissional da área, e sim aquela que realmente ajuda seus pacientes que desejam ser ajudados.

Pude conhecer ao longo da faculdade os campos da psicologia, os teóricos, aprendi a gostar de áreas que não imaginava um dia atuar. Comecei no segundo ano da faculdade trabalhar em uma das áreas que menos me atraía (Recursos Humanos), fazendo a diferença no recrutamento & seleção de candidatos, porque embora é necessário pensar na empresa e no que o gestor espera, sempre vi cada candidato como um ser humano que tem uma história, não apenas uma identidade profissional!

Me apaixonei pela neuroanatomia, biologia, fisiologia, entender o ser humano em toda sua extensão era mágico. Mas, a área clínica sempre foi o meu grande amor, e embora acreditei que poderia fugir da psicanálise e me tornar uma terapeuta jungiana ou corporal, foi a psicanálise que de fato me fascinou, para mim nela está a base, mesmo tendo consciência de que se o Freud tivesse vivido mais, muitas coisas teriam sido alteradas, de acordo com a época.

A área da saúde mental também sempre me despertou curiosidade, me interessou e vivi uma experiência ímpar ao estagiar no CAPS Saúde Mental. Conviver com os pacientes portadores de transtorno mental e familiares enriqueceu muito o meu olhar não apenas como profissional, mas como ser humano! Por essa razão que a minha monografia foi sobre eles.

No último ano da graduação conheci a psicossomática superficialmente e ali encontrei respostas para algumas das minhas perguntas, encontrei uma abordagem onde eu analisaria os meus pacientes integralmente, visando a importância do indivíduo bio-psico-social; Psique + Soma como unidade... Então, escolhi a especialização para me tornar uma Psicossomatista e ter embasamento suficiente para ajudar aos pacientes a elaborarem seus conflitos emocionais que não elaborados atuam no soma através das doenças psicossomáticas. E no Sedes Sapientiae pude encontrar essa especialização com uma base psicanalítica.

Embora a faculdade de psicologia seja um curso com duração de 5 anos, estágios durante 4 anos, vivência prática em algumas áreas, a mesma é muito complexa e quem deseja atuar precisa estar sempre em contato com os livros, com a teoria, técnica e após o término não deixar de estudar, se reciclar.

De que forma?
Fazendo cursos de extensão e especializações que vem a agregar a nossa prática clínica ou outra área de atuação da psicologia (Organizacional, Jurídica, Esporte, Social, Escolar, Hospitalar etc).

Outro ponto importante para quem deseja fazer psicologia é a análise pessoal. Comecei a minha no primeiro ano da graduação e aconselho isso a todos que desejam fazer esse curso. A terapia é uma experiência única e rica, que todos os seres humanos deveriam experimentar! O autoconhecimento é um presente que nos damos e para o psicólogo é fundamental!

Quando o aluno de psicologia começa a encarar e entender alguns conflitos que estavam muito reprimidos, automaticamente irá contribuir para a prática enquanto estagiário na faculdade e posteriormente como psicólogo, principalmente clínico ou hospitalar.

Creio que a partir do momento que somos capazes de entrar em contato conosco, com os nossos conflitos, analisá-los e funcionarmos melhor, buscando uma melhor integração, logo teremos maior capacidade para ajudar aos nossos pacientes.

Carl Gustav Jung, teórico que admiro, entre outros, foi muito feliz nessa sua citação, a minha predileta dele e que a meu ver retrata perfeitamente o que eu acredito na minha profissão:

"Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana".

Sou muito feliz pela minha escolha profissional. E trabalho em prol de ajudar pessoas a se conhecerem, viverem melhor, mais feliz consigo mesma! E hoje posso dizer o quão gratificante é ver a melhora dos pacientes.

Atualmente prefiro focar na área clínica e sou totalmente atraída pela área hospitalar e saúde mental, mas respeito e vejo a importância da psicologia em todas as áreas, inclusive social e jurídica, e se eu tiver oportunidade de atuar entre elas em paralelo no futuro, o farei com grande satisfação!

Deise Alves Barreto de Matos.
CRP 06/103039.